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Cavalo selvagem brasileiro ameaçado de extinção

Artigo exclusivo

Estamos acostumados a associar cavalos selvagens com aqueles que aparecem nas telas de cinema nos filmes de faroeste. Aqueles são cavalos norte-americanos, os mustangues, que se desenvolveram a partir de cavalos fugitivos das tropas de conquistadores espanhóis no século XVI e se multiplicaram livremente nas planícies. Ao vê-los admiramos sua altivez e majestade associando-os a uma vida livre e saudável.

O que muitos ignoram é que há cavalos selvagens brasileiros, e que estão ameaçados de extinção. Nossos cavalos selvagens habitam as savanas do nordeste de Roraima, conhecidas como lavrado, daí também serem conhecidos como cavalos lavradeiros. Esses animais descendem dos cavalos domésticos que fugiram dos colonizadores portugueses e espanhóis no século XVIII. Ao longo do tempo formaram bandos isolados de qualquer contato humano e através da seleção natural os animais mais fortes e adaptados sobreviveram eliminando os genes desfavoráveis.

O processo de seleção natural tornou o lavradeiro um cavalo bastante singular, único em todo mundo. É um animal esperto, de porte elegante, mas pequeno, com 1,40 metros de altura, olhos grandes, pernas fortes muito resistentes e velozes (podem correr por 30 minutos a 60 km/h.). Os cavalos lavradeiros são altamente tolerantes a parasitas e a doenças como a anemia infecciosa e isto decorre de um patrimônio genético formado ao longo de mais de 200 anos.... Durante o período de seca andam grandes distâncias para encontrar água e, na época das chuvas chegam a ficar até quatro meses com os cascos dentro d’água. Vivem em liberdade, em bandos formados por um macho e cerca de 8 a 10 fêmeas. Muitos desses animais passam a vida sem qualquer contato com seres humanos.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estimou em 2010, uma população de aproximadamente 1500 animais que estão ameaçados devido às queimadas e ao desmatamento que destroem o seu habitat. Outro risco é o cruzamento com outras raças de cavalos.

O ecossistema de savanas de Roraima, o lavrado, é único em todo Brasil e de grande importância ecológica, no entanto está ameaçado pela expansão do agronegócio, situação que se agrava por não existir nenhuma unidade de conservação integral na área. Neste cenário para impedir a extinção do cavalo lavradeiro torna-se urgente a criação de sistema de monitoramento das manadas isoladas restantes do lavradeiro e a manutenção de seu isolamento para impedir a contaminação genética de animais domesticados.

O principal trabalho de pesquisa sobre o cavalo lavradeiro é realizado pela Embrapa, que mantém um “Núcleo de Conservação de Cavalos Lavradores” e monitora um plantel de 36 fêmeas e 4 machos. Seu principal objetivo é preservar as características originais da raça e manter sua variabilidade genética. O que mais desperta o interesse dos pesquisadores é o incrível desempenho físico do lavradeiro, capaz de percorrer grandes distancias em velocidade, alimentando-se apenas de capim de baixa qualidade nutricional.

Considerado símbolo do Estado de Roraima, os lavradeiros são encontrados estampados em camisetas, ônibus e artesanatos locais indicando uma ótima perspectiva para a sua exploração turística. Em todo mundo há um enorme número de admiradores de cavalos, especialmente os selvagens pelo seu simbolismo associado à liberdade, e percorrem grandes distâncias para vê-los. Estas pessoas formam um contingente de alto poder aquisitivo e que poderiam viabilizar uma importante fonte de renda para o Estado de Roraima contribuindo para a conservação desse belo animal. Nessa direção, em 2015 o Departamento de turismo do Estado associado a empresa privada criaram roteiro turístico denominado “Vivendo Roraima pelos Cavalos Lavradeiros” que tem o lavradeiro como atração principal.

Atualmente sua proteção pode ser considerada insuficiente para preservá-lo da extinção. Somente com maior participação de entidades da sociedade civil em ação conjunta com as diversas esferas de governo – federal, estadual e municipal – e apoio de particulares apaixonados por equinos é que esses emblemáticos animais continuarão a viver em liberdade. A criação de uma fundação de proteção ao cavalo lavradeiro, de uma unidade de conservação na savana de Roraima e leis rigorosas de proteção à espécie poderiam ser algumas medidas a serem tomadas com urgência para proteger esses cavalos selvagens brasileiros.

 

Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Ciência Política pela Unicamp e especialista em Ciências Ambientais.

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